“Há algumas semanas numa aula, antes de iniciar a abordagem ao tema desporto, perguntei aos estudantes quais eram os assuntos da cena nacional e internacional que mais os preocupavam.
Na altura estava em alta a questão da licenciatura do nosso PM e tinha acontecido um massacre numa universidade dos EUA.
Da cena internacional os estudantes pegaram no massacre dizendo-se chocados mas não surpreendidos, por ele ser expressão da cultura e mentalidade bélicas que tomaram conta da razão norte-americana. No cenário nacional foi eleita como preocupante a situação de desemprego que afecta dezenas de milhar de jovens licenciados de verdade.
Não sei se os leitores já ponderaram sobre o assunto. O desemprego de tantos milhares de licenciados é um problema muito grave não só para os atingidos, mas sobretudo para o presente e futuro do país. É contra todos os princípios de humanidade e justiça, de equidade social e de visão estratégica e política que se deprecia o investimento feito pelos jovens e suas famílias e que se desperdiça um tão elevado capital de conhecimento e formação.
Os jovens em causa construíram sonhos e ideais, conceberam projectos superiores de vida, concluíram os seus cursos cheios de ambições, com força de vontade e criatividade, com enorme potencial de dinamismo e renovação, dispostos a dar o melhor de si à comunidade – e em cima de todo este manancial de euforia, esperança e optimismo é derramado um balde de desconsideração e pessimismo. À espera deles estão o vazio, o desprezo, a desconsideração, a frustração e o desespero. Afinal estudaram, esforçaram-se, trabalharam, investiram – e não foi pouco! – e não vêem nada reconhecido.
Ouviram e ouvem a toda a hora – da boca dos políticos em geral, e dos governantes em particular, dos donos das grandes empresas e serviços, dos peritos em relatórios e dos oráculos dos órgãos mediàticos – que o pais carece de mais licenciados, mestres e doutores e são agora obrigados a confirmar que todos esses discursos e declarações não passam de logro e hipocrisia.
Quando e como é que estes jovens vão constituir família? Quando é que vão alcançar um emprego decente? Se o conseguirem será quando as suas melhores energias estiverem gastas e as suas ilusões sufocadas pela dúvida, pelo desencanto, pela frieza e ansiedade, isto é, quando estiverem exauridos do potencial de entusiasmo e inovação, de entrega generosa e trasbordante que por certo levariam para a sua profissão. Se o país trata assim os seus jovens, se os condena a serem vencidos da vida, que presente quer afirmar, que amanha quer construir?!
As implicações desta realidade são diversas e profundas e mostram que o país não é pensado a sério, que se mente e mantêm a farsa em todos os sectores, que há corporações com interesses nada sintonizados com a formação sólida dos quadros. Não se deseja transcender a barreira do obscurantismo.
O que se quer é gente formada pela rama e à superfície em cursinhos feitos a correr, gente que possa ser facilmente ludibriada e manipulada, submissa e incapaz de se pensar a si, aos outros, às coisas e causas, de erguer questões e problemas e a quem seja paga uma ninharia.
Isto é pura verdade. É esta a formação que interessa; a outra – exigente, alargada e profunda – é indesejada."
Jorge Olímpio Bento em o jornal “A Bola”
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3 comentários:
Sem dúvida. Quando tiver 40 anos, será que já posso pensar em engravidar? Talvez não...é melhor não me precipitar.
Infelizmente, pela parte que nos toca.
Não parem, não…e depois ?
Todo o cidadão precisa de estabilidade, de algumas certezas para consolidar os seus projectos e sonhos e ser realmente o alicerce de uma nação, a força de um pais.
Não será com a politica deste governo – assente no fecho e destruição de serviços públicos, na precariedade dos vínculos laborais, na liberalização desregulada das relações de trabalho, no apadrinhamento de recibos verdes para toda a vida e outras trafulhices, na vigarice encoberta das avaliações, nos horários desumanos que não deixam tempo para a família (quanto mais para olhar as estrelas), com tão incertos direitos e salários tão baixos que ate são marketing de um ministro... – que o nosso pais terá cidadãos preparados para enfrentar os tais desafios da globalização que nos andam a meter medo.
É com falsas promessas e arrazoado profundamente estudado por manipuladores doutorados ao domingo que os nossos trabalhadores estão a ser esmagados e empurrados para condições idênticas às do século XIX e os bancos e grandes empresas têm lucros nunca vistos.
É tempo de dizermos basta; é tempo de lembrar que é a força dos braços dos portugueses – povo que fez e fará andar o nosso pais. Todos devemos lutar para deixar um futuro melhor aos nossos filhos. Às vezes é mesmo preciso pararmos todos ao mesmo tempo, para que o governo veja que sabemos e não aceitamos o desprezo com que estamos a ser tratados.
Se não actuarmos já, depois... depois será muito tarde.
Maria Moriera
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