quinta-feira, setembro 21, 2006

Crónica do Demencial: Lusocartofobia

Apresentamos nesta Crónica, a Lusocartofobia.

Não é nenhuma breve crónica sobre racismo ou xenofobia. Também não é uma doença, que se possa apanhar como uma constipação; ou uma virose; ou uma doença do foro psíquico. A razão do aparecimento da lusocartofobia é mais íntima; é um problema pessoal e também colectivo.
O termo lusocartofobia, descreve a sensação de medo, frustração e desprezo que sente a maioria dos portugueses quando lida com mapas.

Mas antes de chamar-mos à atenção a União Europeia, a ONU, e o Governo nacional, vamos descrever, como se fosse uma bula médica os principais sintomas desta fobia.
A lusocartofobia ataca todos os cidadãos que detestam mapas – daí o termo cartofobia, quanto ao tema luso, achamos que é de fácil entendimento – que os detestam por terem cores variadas; tracinhos; cruzes; auto-estradas e caminhos-de-ferro; cidades e vilas; distritos; parques naturais; o norte, sul, este e oeste; bandeiras cruzadas, a relação entre a distância e os km; e a sinalética constante e regular, capaz de fazer perder paciência em poucos segundos ao mais calmo condutor, turista ou viajante!

Até agora sabemos as causas de tal calamidade. No entanto faltam outras pistas que vamos desvendar a seguir. O tempo de ocorrência da fobia, o tempo de duração, os efeitos indesejados e a posologia certa para combater este fenómeno psicológico.

A fobia ocorre principalmente nos meses de verão, Junho, Julho, Agosto e Setembro, pode por isso ser considerada uma doença sazonal de verão, uma espécie de febre dos fenos. No entanto a fobia também pode atacar em larga escala no Natal, Carnaval e Páscoa. É uma fobia com um comportamento nitidamente festivo, e ataca durante datas simbólicas. Quanto aos efeitos indesejados, a experiência decorrente da observação deste fenómeno mostra-nos que a Lusocartofobia pode ter repercussões graves nas maleitas do foro psíquico e até psiquiátrico.

Provoca ansiedade; ataques de fúria; manifestações do Síndroma de La Tourette; ciúmes; raiva; choque anafilático; crises cardíacas. Mas o efeito mais corrente é o da desorientação e no caso de uma terceira pessoa intervir poderemos assistir a uma discussão que até pode culminar em violência física, quanto mais verbal.

Para combater esta fobia, observamos que não existe um medicamento certo para a combater. Não devemos esquecer que se trata mais de um comportamento gerado pelo excesso de confiança, na suposta “orientação pessoal” e ao hipotético “sexto sentido”. Um especial sexto sentido que ataca maioritariamente o português - homem.

Mas como combater este fenómeno?! Comprar um mapa ou guia actual com as estradas nacionais e estrangeiras, fazer um curso de geografia, nem que seja por correspondência; pedir aconselhamento a pessoas instruídas, e não esquecer de respeitar quem sabe ler um mapa. Tomar umas aspirinas também pode ajudar, para acalmar a excitação e frustração gerada por uma desorientação na estrada, ou quando procura aquele museu que gostaria de visitar desde o ano passado, e porque se perdeu não conseguiu. Agora como não tem um mapa, vai reincidir novamente.

Foi exactamente isto que aconteceu, ou quase que acontecia a uma família portuguesa nesta semana que passa, na cidade do Porto. Procuravam o Museu do Vinho do Porto. Cruzaram-se com um dos elementos do blog, enquanto estava a realizar a corrida habitual de fim da tarde (Ah pois é!).

Perguntaram se sabia onde ficava o museu. Claro que surpreendido daquela maneira não conseguiu responder. Pouco depois lembrou-se que o dito museu estava localizado nas imediações. A primeira resposta foi indicar-lhes que perguntassem num ponto de apoio ao turista (e no Porto existem tantos!!!) ou pedir informações mais há frente. Pouco depois o elemento do blog cruzou-se novamente com o grupo. Já sabiam onde ficava o museu. Aproveitou para lhe dizer que o melhor, nestes casos é adquirir um mapa com os monumentos e museus da cidade.

O senhor, indignadíssimo, disse que não necessitava de mapa algum para se orientar. O elemento do blog anuiu, e continuou a sua corrida. Mais uma vitima da Lusocartofobia, pensou.

Enquanto escrevemos, pensámos: “mas afinal estaria o museu aberto ás 19:00 horas da tarde!?”

(21.09.06) Searaman & Blinkboy

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