sexta-feira, outubro 20, 2006

Crónica:do Demencial: Desregulação Interior

Crónica do Demencial: Desregulação Interior

O Homem nem sempre está feliz.

Na existência momentos em que tudo fica parado num beco. A salvação nem sempre nos ouve, ou nos falava, e quanto muito pode vir na receita de algum remédio para alguma maleita. Hoje escrevemos sobre prisão de ventre. Voltamos à obscenidade, à heresia de falar de merda. É sobre merda que se trata este texto. E não nos vamos esconder por caminhos metafóricos e campos lexicais médicos. Já basta andar na merda, e ter de dizer que vamos andando…

A desregulação interior, pleonasmo por outras palavras que procura dizer prisão de ventre, destrói a vida de muita gente todos os dias. Mas devemos ser sensatos e pacientes com quem perde uma manhã inteira a cagar. Paciência. Cagar logo e bem cagar é sinal de vitalidade intestinal. Pura vitalidade da raça, diga – se, humana.

Mas não compreendemos porque há gente que com requintes da dicotomia desejo vs. morte, que se esforça por esventrar nas horas dos ciclos diários de cagança.

As soluções passam por produtos que adquirem o poder de um bálsamo. O bálsamo neste caso serve – lhes para tornar mais rápidas as auto-estradas intestinais. Mas tudo começa por cima, e para essas pessoas, a boca é uma mera passagem; o esófago é uma mera passagem mais inclinada; o estômago é um balde de tinta para dar um retoque no produto. Depois a acção desenrola-se nos intestinos, mas querem que a mesma seja ligeira, ou light, como se diz agora.

Com a acção dos milagrosos produtos, a hipótese de cagar torna-se rotineira, como a necessidade das tripas expelirem a caganeira numa mija quando as coisas dão para o torno e apanhamos uma intoxicação. Os produtos milagrosos, estão acessíveis, e neste momento - neste momento em que escrevo esta crónica é uma era triste para as farmácias, pois a venda de laxantes já deve ter feito apodrecer o mercado da limpeza intestinal. As impurezas podem agora… Perdão, não se trata de impurezas, mas de alimentos normais, que são empurrados pela leveza de produtos com o “Acti”, o “Regulador”, ou o “Fibra com mil milhões” (ficam aqui alguns exemplos); e ao serem atirados para fora de cena, vão tirar do curso da história, a natural forma de cagar, um processo que se aperfeiçoou ao longo de milénios.

Imaginem o que seriam as dificuldades do homem da idade do gelo em cagar. Primeiro, o acto deveria ser longo, pois o consumo de carne era primário e não existia alternativa para vegetarianos, uma vez que vegetais seriam de pouca monta, e nem isso lhes passaria pela mona. Imaginem o ser, no pleno acto, completamente incólume a apanhar alguma constipação só por colocar o rabo ao léu. Imaginem o que seria a falta de uma boa pedra junto ao rio, ou de umas folhas de feto fresquinhas! Meus caros, evoluímos muito, mas quando nos deparamos com um funcionário público aselha, ou outra situação de nacional porreirismo, até ficamos com a tripa às voltas.

Hoje, com a sofisticação, assistimos à arquitectura da implosão do ser, e devido aos estímulos da modernidade, criaram-se hábitos que destroem os actos solenes como cagar. Os produtos em voga, são cada vez mais apetecidos.

Esses produtos regulam as horas, e ao regularem o relógio interno, vão também fazer com que as pessoas normais que não sofrem de problemas naturais de defecção, trabalhem mais, produzam; gastem; contraíam empréstimos e hipotecas. Vivendo com um frenesim tal, só pode significar uma de duas coisas: ou são pessoas que preferem e vivem o desejo de cagar e ter a sua cagada a tempo e horas como o sexo a tempo e horas, ou então tudo isto não passa de uma estratégia capitalista para reduzir mais uma vez o homem aos intuitos dos grandes grupos de fabrico de iogurtes.

Isto, meus caros leitores é uma mancha castanha muito grande e muito mal cheirosa nas nossas vidas; é uma merda; e descobrimos que afinal sempre devemos olhar as coisas de um diferente ângulo.

Gostávamos que pensassem nisto, como quem pensa que tem uma pedra na barriga, e tem de andar às voltas para encontrar uma solução. A solução é chá tradicional, genuinamente colhido no campo e colocado em sacos que podem encontrar em lojas de produtos naturais. E não se esqueçam, sejam puros e não usem essas mixórdias com aloé vera.

Achamos que fomos tão originais com esta descoberta que somos tentados a dizer “viva a merda!”. E que afinal os manuais sobre o acto de bem cagar, e toda a etiqueta que foi escrita por muitos eruditos, se encontrava certa. Mas desconfiamos e não queremos que em nome da sofisticação, da modernidade e do capitalismo, o acto de se sentar no trono se torne tão banal como mascar uma pastilha elástica.

Pelo bem de bem cagar, divulguem esta mensagem; bem podemos dizer que o futuro pertence à merda, perdão à boa merda, pura e sem aditivos, que façam com que o ciclo digestivo seja desmaterializado, pois ele é um trabalho de equipa que exige que sejamos parceiros, ou melhor, o jogador mais avançado, pois é a nós cabe a concretização final.

Searaman & Blinkboy (02/10/06)

2 comentários:

Anónimo disse...

porque não te cagas?

Anónimo disse...

entreeeiii poooor acaaassooo no teuuuu blog. picas----te?