quinta-feira, outubro 27, 2005

Grande Reportagem: Os Telejornais

Grande Reportagem: Os Telejornais

Quem não gosta de ler, e quem não aprova – porque não! – diz que as letras são apenas pinturas sem significado num papel. E quanto aos Telejornais? São imagens de cores numa vida cinzenta?

Na grande reportagem efectuámos uma investigação à programação dos noticiários da televisão, e chegámos a algumas conclusões no campo da gastronomia.

É verdade, os factos são os seguintes: as estações de televisão são como a casa do normal português, que à falta de tempo, vontade ou dinheiro, decide guardar as sobras do almoço para o jantar, e, porque não dizer, que guarda as sobras para o dia seguinte.

O português tem por hábito comer muito e em escandalosa quantidade, no campo jornalístico a questão tem a mesma forma só que tratando-se de notícias: realizam-se umas quantas manchetes que vão sobejando durante um par de dias ou mais; não nos devemos esquecer dos casos de futebol, esses sim verdadeiras depressões dramáticas que duram uma semana.

“Aparentemente já dissemos o que tínhamos a dizer, porém vamos desenvolver o assunto no jornal das 20, e nos próximos 3 dias.” – Onde é que já escutámos isto (Nunca, é apenas imaginação nossa!), mas sabemos que as coisas acontecem assim.

O que escolher para “restos de comida, logo há noite”?
Temos este assunto da pirotécnica que explodiu nos arredores de Braga, uma passagem de nível em Ermesinde é recuperada, o corte ilegal de sobreiros em Palmela, o túnel do Marquês, a assassinato de um agricultor na cova da Beira, por causa de uma disputa de água com um vizinho, ou este homem agredido brutalmente em Rio de Mouro – um crime de contornos racistas?

Com algum melindre a equipa técnica decide-se pelo seguinte: abrindo o telejornal das 20 horas, agricultor da cova da Beira assassinado, homem agredido em Rio de Mouro; fábrica em Vila do Conde fecha (notícia muito curta, desenvolvida nas notas de rodapé); o caso do túnel do Marquês, logo seguido do caso do túnel de Ceuta; a política nacional – com o acompanhamento imparcial de Miguel Lousa Mamares - ; uma curta síntese das manhãs de uma vendedora de artigos de necessidade imediata, como guarda – chuvas na Avenida dos Aliados; reportagem integrada na categoria “Vidas”, depois as notícias mais recentes, isto é, se repararem bem, são aquelas que os senhores jornalistas realizam para o jornal da noite, pois tudo o resto é uma repetição ou síntese!

Como notícias mais recentes, temos: as festas do castelo estão a terminar, neste Outono continuará a seca, rotunda é deixada inacabada depois das eleições autárquicas, é descoberto mais um morto que afinal está vivo; e para terminar uma incursão ás última novidades zoófilas, com as mais recentes descobertas na reprodução assistida de pandas e de um cão que é viciado em televisão.

E a moda, havendo moda no final requinta-se, e o pivôt jornalístico deixa no fim um até amanhã com um sabor de cio pingado no olhar. Agora, depois das iguarias noticiosas bem esquentadas: a sobremesa das modelos! Abre a telenovela das modelos brasileiras boazonas.

É um mundo feito a correr, e tudo anda atrás da teta do entretenimento, as notícias no fundo não são precisas para mais nada, mas é necessário este cuidado paliativo, pois há muita gente que vive de e para este mundo.

Mas o que o português gosta mesmo é que o entretenimento venha com mais entretenimento, algo que lhe encha o espírito!

Quanto ás notícias – como na comida, a verdadeira comida – podemos fazer um panelão barrigudo de arroz com feijão que dá para toda a semana.

(25.10.05) Searaman & Blinkboy

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