sexta-feira, junho 06, 2008

Crónicas do Demencial no Sem Censura de 6 de Junho - Peregrinação


Boa Noite, sejam bem-vindos à primeira Crónica do Demencial desde a última! Desta vez serei somente eu a fazer a incursão no maravilhoso mundo das Crónicas, visto o nosso amigo Paulo Seara ter emigrado para Inglaterra onde realizou uma visita de trabalho a Edimburgo na Escócia, aproveitando o tempo livre para visitar o Lago de Loch Ness, e onde a única coisa que conseguiu apanhar foi uma constipação exasperante devido ao típico tempo Escocês, é o que dá andar de Kilt. Na quarta-feira encontrou Bono Box, vocalista dos U2 num Pub da Capital Escocesa e trocaram entre si receitas de Bacalhau e Arenque.

Esta semana vou tratar de um tema que me diz muito pelo menos uma vez por mês quando vou ao Futebol: Peregrinação.

Nem toda peregrinação é de cunho religioso. Peregrinar significa viajar, andar por terras distantes. Qualquer pessoa pode criar sua própria peregrinação para algum lugar que lhe seja sagrado ou inspirador. Esse lugar tanto pode ser Fátima, Compostela, Jerusalém, Roma, Sede da UEFA ou o Estádio da Luz.

Seguidamente contarei uma história tendo como pano de fundo uma reunião familiar por efeito de uma peregrinação:

VÉSPERAS DE UMA PEREGRINAÇÃO Dos Gomes da Fonseca

Uma vez mais os laços familiares dos Gomes da Fonseca foram estreitados na reunião habitual da peregrinação ao santo da Freguesia. Uma oportunidade mais propícia que o próprio Natal, pois as férias de Verão são aproveitadas para reunir todo o clã, e prestar preces e homenagem ao padroeiro que ajudou tantas gerações passadas.

Realizando um acto de contrição, esperemos que o senhor chefe de família não precise de mudar de roupa a meio da merenda por ter apanhado em cheio com o galheteiro do azeite nos cornos, atirado pela esposa, que o encontrou a beber desalmadamente na companhia dos irmãos Nunes.

A esposa ficou fula e com razão e esteve quase a dar-lhe o fanico enquanto gritava: “Desavergonhado! Desaparece-me da frente, estamos num local santo e tu andas a beber como sempre, não tens vergonha seu porco!”.

Mas quando as pessoas são educadas, é outra coisa. Enquanto o senhor Fonseca foi curar a ressaca para trás de umas giestas, a sua esposa até começou a confraternizar com os Nunes, e falou-se muito sobre telenovelas e concursos de televisão.

Essa bronca inicial foi o menos, pois o pior veio a seguir, quando a avó teve a ideia de perguntar à Prima Ofélia se tinha recebido algum presente de aniversário dos patrões onde é secretária, tendo a parva descaindo-se a dizer que, do Senhor Serafim, recebera um jogo de calcinhas rosa e um soutien de nylon, e do Senhor Cancelas, um vibromassajador japonês de cor ébano, muito bonito. Ora, ao ouvir isto, o Frederico - que é marido de Ofélia -, e que tinha metido á boca uma grande garfada de Bacalhau á Brás, engasgou-se, engoliu comida por mastigar, cuspiu o resto para o prato do avô, e desatou às bofetadas à Ofélia.

Esta reagiu, crescendo como uma leoa, dizendo: “Pois digo para vergonha tua, que nem és marido nem és nada! Se não fossem os meus patrões não sei o que seria de mim!», desatando a chorar baba e ranho, e foi então que o Frederico agarrou na faca de cortar o pão-de-ló, começando toda a família a gritar «Ai que ele mata-a! Ai que ele mata-a!», mas o Senhor Fonseca, aparecendo já ressacado, tirou-lhe a faca. O Tio Arsénio obrigou-o a sentar na cadeira, deu-lhe palmadinhas nas costas e disse-lhe: «Não ligues ao que ela diz, pá, já sabes como são as mulheres», e ele ao ouvir estas boas palavras, ficou mais sossegado e até alargou um furo ao cinto para continuar a comer.

A Tia Palmira não gostou da conversa do marido (Tio Arsénio) e começou a refilar, que ela era uma mulher séria, que quem não se sente não é filho de boa gente, etc., etc., mas o Tio Arsénio que é um bocado bruto, atirou-lhe logo uma boca a matar: «Escusas de te armar em séria, que todos sabem que andaste enrolada com o Gonçalves da farmácia quando ele te tratou do eczema»; e ela, logo: «E tu com a Gracinda da peixaria, que até escamas de pargo trazias para casa nas cuecas!» O Tio Arsénio, muito fodido responde: «As escamas de pargo não são para aqui chamadas para nada, porra!» E ao dizer isto, deu tal murro num prato de croquetes que saltaram para todo o lado assustando até os primos mais novos que jogavam uma bela suecada ali por perto.

No entanto, o Senhor Fonseca que ia acudir a Tia Palmira, esteve vai-não-vai para apanhar outra vez com o galheteiro, pois a esposa ainda não se tinha esquecido do que tinha feito; enfim, só visto!

O que valeu para que a merenda não ficasse estragada foi a imposição dos sinos do campanário, e visto ser aquele o toque para reunir a congregação, não se consentia faltas de respeito, pois o local não era nenhuma taberna e era imoral estarem a encher o bandulho naquele lugar santo, com a comida cara como estava, e a portarem-se que nem javardos em vez de se mostrarem agradecidos com as benesses divinas de um tempo de paz e de pão.

Até ao fim das celebrações ninguém abriu a boca, mas ao chegarem a casa, a esposa do Senhor Fonseca, que tem muito jeito para compor as coisas quando não está a aziar, disse que o melhor era a Dona Guiomar (irmã mais velha do Senhor Fonseca) ligar a televisão, pois tinham programas muito bonitos, sobretudo os concursos depois do Jornal da Noite, até porque as conversas não fazem falta para nada e as pessoas não estava ali para conversar, mas para comer e que assim as crianças sempre estavam mais distraídas; enquanto isso se passava, os primos juvenis jogavam à vez no GameBoy, e as primas conversavam sobre as fotos dos moços na revista “Bravo”.

E foi assim que os mais pequenos tiveram de gramar duas horas de chachadas com intrevalos pelo meio.

Não é que eles não gostem de chavascal e sarrafada, mas, mal por mal, ainda preferiam ver os parentes todos à porrada e a descobrirem as carecas uns dos outros, do que ver televisão, eles que nem sequer tinham TV por cabo, grandes ordinários.


Em suma, para que serviu esta peregrinação local? Quais a vantagens e desvantagens de ir peregrinar para longe como Santiago de Compostela, Lourdes, Fátima, Roma, ou Jerusalém? Os Gomes da Fonseca conseguiriam ser tocados pela fé? Professando-a na prática, ou seriam uns turistas lusos extrovertidos numa terra estranha, dando nas vistas com os seus costumes, conflitos, falta de amor-próprio e de amizade?

Cada um poderá tirar as suas conclusões.

Agora para terminar, que a Crónica já vai longa, uma noticia que interessa face ao tema de hoje:

Peregrinos autorizados a circular de joelhos pela faixa “BUS”

Todo o fiel que vier a Fátima para assistir às Comemorações das Aparições da Nª Sr.ª Fátima tem autorização do Governo Civil para circular de joelhos nas faixas destinadas ao “BUS”.
“- Assim é mais rápido, até porque assim não ficamos todos engarraf...” comentou um crente momentos antes de ser abalroado por um Táxi e ir ao encontro do Criador.

Várias brigadas da BT, da PSP e da Pull&Bear foram colocadas em pontos estratégicos da cidade para auxiliar todos os peregrinos que se dirijam às comemorações, desde que o façam apoiados nos membros ou orelhas.

Até ao momento, foi registado apenas um acidente: dois peregrinos que se dirigiam ao Santuário sofreram uma colisão frontal. O que se deslocava apoiado nos cotovelos não terá respeitado o semáforo e provocou o sinistro.

Depois de terem sido desencarcerados um do outro foram encaminhados para o Hospital local onde estão de momento a Chá.


1 comentário:

Anónimo disse...

AH?
8|

história mt estranha... donde é k desencantaram isso?...