quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Grande Reportagem: Historial dos fatos de Treino durante a Década de 80 e Inícios de 90.

Grande Reportagem: Historial dos fatos de treino durante a década de 80 e inícios de 90.

Temos uma palavra a dizer!

A história merece que haja uma menção sobre a epopeia dos fatos de treino em Portugal, e em concreto sobre os fatos de treino cosidos e fabricados em terreno nacional.

Ainda alguém se recorda desses fatos de treino, ainda alguém guarda no armário da roupa, algum desses artefactos, ainda alguém tem a noção das cores desses fatos de treino, alguém ainda se lembra quando adquiriu, ou, porque eram demasiados pequenos, será que ainda se recordam quando vos ofereceram um desses fatos de treino?.

Aqui, na grande reportagem iremos trazer para fora do armário esses esqueletos ondulantes e finos.

Antes de mais, é preciso analisar Portugal nos anos 80: um país prestes a entrar na então CEE, um país em que as pessoas recebiam um salário mínimo ridículo, um país que transita da televisão a preto e branco para a televisão a cores.

E já que falamos de fatos de treino, é preciso analisar que naquele tempo, ter um fato de treino de marca, era só para alguns, muito poucos. Naquele tempo nenhuma das grandes marcas de roupa desportiva mundiais era o que é hoje, ainda andávamos na primeira infância dos fatos de treino.

É neste cenário que aparece o fato de treino português.

Mas onde é que surgiu o fato de treino português? Nas fábricas de têxteis nacionais, espalhadas um pouco por todo o país. O destino da maioria dos artigos era a feira, a venda na rua, e ás vezes aparecia nas grandes superfícies comerciais, quando o artigo tinha melhor qualidade.

E foi assim que, rapidamente, como um vírus, um pouco por todo o lado, crianças, adolescentes, adultos e idosos, aderiram á moda.

Os fatos não sendo da melhor qualidade (notem aqui o eufemismo, sim! porque também usamos figuras de estilo), muitos deles com a qualidade de uma folha de papel, que ao primeiro rasgão, se transformava num grave problema, solucionado apenas com uma agulha, linha, e um remendo de alguma marca desportiva!

Não sendo de melhor qualidade, esses fatos valiam-se das outras características. As suas cores não combinavam bem, e o desenho era o mais arcaico.

No que diz respeito ás cores, existiam modelos, com tons roxos, ou violetas com verde, ou amarelo, o castanho escuro combinava com o castanho lustrado e mais brilhante. Quem não se recorda de um fato amarelo com umas tiras com motivos tropicais na perna direita, e que também apareciam junto ao peito.

Naquele tempo era perfeitamente natural haver fatos de treino sem nada, rigorosamente nada nas costas, apenas uma cor, quando muito a parte superior das costas com uma pequena tira triangular com uma outra cor, ou rectangular, mas essa cor aparecia junto aos pés (perceberam? Nós também não...tão a ver?! Também sabemos ser incompreensíveis)…

Enfim, a criatividade não era muita, e como vivíamos num tempo de pouco dinheiro, apesar de uma aparente economia de mercado galopante , as calças de ganga ou jeans combinavam na perfeição com a parte superior do fato de treino, e houve casos bizarros em que se utilizava o fato de treino com botas e casaco de ganga.

Isto retrata um conjunto único, ao qual não faltavam na mochila as sapatinhas ou ténis para a aula de educação física e num dia de chuva não faltava o típico adereço preso á mochila bamboleante.

Contudo eles são capazes com aqueles fatos, de recriar a geração dos nossos pais, de bigodes fartos com o cabelo á Chalana, não esquecendo a corrente de ouro ao pescoço, e com a unhaca coçando o tomatal enquanto não pediam ao taberneiro mais uma loira fresca, quero dizer cerveja.

É verdade, esquecemo-nos de mencionar a meia branca turca e o sapato de fivela!

Felizmente o tempo não volta para trás, e realmente não conseguimos encontrar um ser humano com essas fatiota nos dias de hoje, não quer dizer que seja impossível!

Esta estranha moda durou até meados de 1995/96, altura em que nichos isolados do país começaram a entram em contacto com a moda das roupas largas, uma altura também em que as grandes marcas desportivas começam a entrar em força no mercado.

O fato de treino português entrou em colapso, e hoje apenas nós e sete pessoas se recordam desses dias. Marcas como a Koutelle desapareceram, entre outras…

Mas não temos saudades nenhumas de vestir essas roupas, longe disso!

Mas lembramo-nos de quantas alegrias e tristezas provocaram os fatos de treino rasgados, ou sujos de terra, ou porque simplesmente estavam sujos pois não havia meio de retirar a mancha que ficou no fundo das mangas.

Por outro lado as crónicas tiveram uma ideia, avançamos em primeira-mão, que pretendemos realizar brevemente a primeira concentração de Fatos de Treino do País, num local a designar!

Não pensem que brincamos, é uma ideia séria, com direito a jantar, pago pelo próprio bolso, e depois quem sabe, podemos criar uma confraria, e fazer um intercâmbio com a Associação do Bigode Português.

Até á próxima, e vejam se encontram os fatos de treino algures em casa, antes que a traça o desfaça!

Hoje somos só dois, amanhã poderemos ser milhões!

Viva o Fato de Treino Português!

Searaman & Blinkboy (28.01.06)

Sem comentários: