quarta-feira, junho 27, 2007

Crónica do Demencial: O Império Soja

Cada um é aquilo que come, já diz o ditado.

O título desta crónica poderia evocar uma história desenterrada por alguma campanha de arqueologia de verão, ou anunciar que após o fim do Império dos Estados Unidos da América emergirá uma nova entidade mundial. Nada disso.

O “Império Soja” é uma realidade que também não é real, faz parte do nosso imaginário e quando dizemos que “existe” um tal hegemónico estado, não acreditem. Na realidade o que existe são produtos que têm por base a soja e que por trás, os dúbios interesses de companhias mundiais; desde a produção até ao empanturramento do consumidor final. A soja é boa para manter a linha mas também está presente nos cremosos hambúrgueres. Só falta vestir e respirar soja, e descobrir que a multifacetada soja combate a infertilidade. A humanidade está a caminho de se tornar um planeta como Coruscant da saga Star Wars – metal, betão, luz e condutas? Mas vamos esquecer Coruscant e a novela de Darth Vader que acaba tramado pelo filho! Falemos a quem tem de ser: aos macdependentes, aos vegetarianos ou quase vegetarianos (como alguns se apelidam) e aos demais consumidores de soja, porque sem vocês não existiria Império Soja e também está crónica.

Caros irmãos (apetece-nos epistolar) vocês estão a dar cabo da floresta tropical da Amazónia! Todos os anos milhares de hectares de mato são devastados sem se poderem defender para dar lugar a fazendas onde sub nutridas vacas pastam, embora não tão esqueléticas, pois dão uma boa picanha. E para além da carne de vaca, a soja ocupa o lugar da terra. Uma terra tão boa para árvores, mas virulenta para com outras espécies, que em cinco anos fica improdutiva e para continuar a ser espremida, são à base de aditivos químicos. E para onde vai tanta carne e tanta soja? Para as bocas dos irmãos Macdependentes por todo o planeta.

Mas e os vegetarianos? Afinal toda aquela conversa primordial de bons selvagens não passa de uma treta espanejada ao ar como bandeira de iluminados? A floresta tropical está a ser dizimada e vocês colaboram. De onde pensam que surgem as cada vez mais apetrechadas prateleiras de soja? Acham que a soja se produz em Portugal? Não sejam ingénuos! A boa soja, barata e apanhada por uns diabos que trabalham a troco de comida, tem de vir da floresta tropical. Soja portuguesa é muito cara. Vocês deveriam salvar o mundo, não matá-lo; para isso já contamos com os Macdependentes ao virar de cada esquina dum restaurante de fast food.

E os chamados consumidores finais estarão dispostos a exigir uma soja certificada pelo menos? Contudo não estamos a ver que deixem de dar aos filhos o leite de soja, o belo naco de tofu e a comida macrobiótica. Soja certificada e produzida sem mão-de-obra infantil ou sangue derramado de índios, talvez sim, talvez não… quiçá…

Contudo é triste ver para onde nos leva a soja…beber leitinho de soja quando as vaquinhas o podem dar. Será que os bovinos agora têm um sindicato que as defende da exploração, e empurraram o seu lobby para a soja, que sendo planta não se pode defender!

Por trás do “Império Soja” vislumbramos o verdadeiro Império Soja – uma cortina cultural.

Para quem está longe da realidade é fácil pensar que o dossier Amazónia se resolve e que voltaremos ao equilíbrio. Porém se usámos as palavras “dossier Amazónia” estamos a transmitir a ideia que o problema está longe de se resolver.

Por outro lado também é fácil acusarem-nos que estamos a ser conservadores ao falar deste assunto rondando o absurdo (pois já nos disseram que os artistas são conservadores) e que o ponto está errado. Gente normalizada, não estamos a ser conservadores, estamos a ser subversivos.

(27/06/07) Searaman & Blinkboy

1 comentário:

eskisito disse...

Eh lá, espíritos ambientalistas inquietos. Atenção, que o senhor da Quercus ainda vos nomeia para um prémio. A sério, a hipocrisia de quem se diz amigo do ambiente é fabulosa...